MUNDOS
AVANÇOS NA INTERACÇÃO MENTE-CORPO
Joaquim Fernandes*
Durante muitos anos a investigação das relações entre a mente e o corpo desenvolveram-se na periferia do conhecimento, mas a marginalização parece ter os dias contados: o Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos, passou a canalizar fundos e pessoal para o estudo interdisciplinar das relações entre os estados mentais e a saúde física.
Num artigo publicado na revista The Scientist, do passado dia 11 do corrente, revela-se que, desde 1999 que o INS, orgão que rege os domínios da saúde nos EUA, estabeleceu 10 novos centros de investigação em diferentes regiões do país, tendo investido neles cerca de 50 milhões de dólares. Esther Sterneberg, que dirige o Instituto Nacional de Saúde Mental Integrativa, afirma que, a partir de agora, existem “rigorosas evidências científicas” que autorizam a adesão incondicional da comunidade médica a estas novas perspectivas.
Os responsáveis do INS adiantam que “finalmente, aceita-se como um facto que o cérebro e o sistema imunológico comunicam entre si”. Acrescentam que esta interacção desempenha um papel decisivo na doença. As ciências sociais, a psicologia, a neuroendocrinologia e a imunologia, todas elas representam vertentes de análise de uma questão central.
Um primeiro grande encontro sobre as interacções entre a mente e o corpo, que decorreu em Março último, em Bethesda, reuniu 500 investigadores de 14 instituições e centros de estudo em torno de questões sobre neuro-imunologia integrativa. O ambiente, antes distante e negativamente céptico, transformou-se em notória receptividade.
A investigação das emoções humanas e dos seus reflexos, no estado de saúde de cada indivíduo, pode medir-se pelo sugestivo aforismo de António Damásio, quando nos diz: “Dentro do nosso cérebro temos um corpo virtual”.
Estudos epidemiológicos recentes estabeleceram já uma clara relação entre o isolamento social e a doença, embora o mecanismo actuante permaneça por identificar, como reconhece John T. Cacioppo, professor de Psicologia da Universidade de Chicago, ao analisar o comportamento de mais de 2 mil alunos.
Neste concerto de vozes, mais ou menos concordantes, o decano de Medicina da Universidade da Columbia, Gerald Fischbach, aconselha cautela contra o excesso de simplificação da vida emocional: “a mente humana é o mais complexo orgão que existe em virtude da sua interacção com o ambiente”. Mas, o “entusiasmo céptico” prova a pertinência de uma medicina integrativa, holística.
* Docente e investigador universitário